terça-feira, dezembro 30, 2008

Finalmente

"Já sei o que hei-de fazer! Finalmente!"

Há anos indecisa, sem saber o que fazer e sem escolher um caminho para percorrer. Quanto ao sexo, depois de pensar loucamente no caminho a escolher, depois de ter experimentado tudo e mais alguma coisa, com pessoas de todas as raças, sexos e idades dentro da lei, não se conseguiu decidir mas ao menos divertia-se e preferia pensar que mais cedo ou mais tarde havia de aparecer o tal, a tal, os tais ou as tais.

Um dos problemas, e provavelmente o mais importante, era a área profissional. Não sabia o que fazer. Tanto se achava a maior do mundo e capaz de fazer qualquer coisa como se considerava como a mais burra, incapaz e egoísta de toda a humanidade. Mas sempre sem saber o que fazer. Lá fez a sua lista dos "nãos" a aumentar ligeiramente com o passar dos anos. Mas muito lentamente. Dos 12 aos 18 sabia que não queria ser Presidente da República, astronauta, padre nem tocadora de ferrinhos. Tudo o resto estava em aberto.

No tal dia 29 de Fevereiro, no último ano bissexto da década, decidiu finalmente tornar-se um homem do lixo segundo a lei, uma mulher do lixo na sua cabeça. Diferente, um homem do lixo mulher e capaz de recitar Santo Agostinho a fazer pé-cochinho para 300 pessoas e capaz de fazer crepes capazes de dar 5 piruetas no fim sem nunca cair enquanto tocava piano.

Feliz por saber finalmente o que queria fazer, deparou-se com um grande problema, o da integração na sociedade. Ela pensava que não havia problemas de certeza, "Lixo há sempre, e de certeza que vão precisar de mim."


Azarada acima da média, na altura em que já se julgava capaz de trajar o uniforme sumptuoso dos homens do lixo, o Sindicato Higiénico tinha posto as mãos à obra. Depois de anos a tentar lavar as ruas e esvaziar os caixotes, tinham finalmente conseguido lavar os cérebros dos cidadãos. Já ninguém sujava a rua, o lixo era sempre posto no caixote certo e todos tinham mais trabalho, menos os homens do lixo. O sindicato estava a ser criticado por todos pela quantidade de trabalhadores e pelos custos inerentes, então deixou de ser permitida a contratação de pessoas novas.

Furiosa, não sabia o que fazer, quando tinha finalmente decidido o que queria fazer. Correndo o risco de ficar mais 34 anos sem fazer nada a tentar decidir-se novamente, fez questão de não abandonar o percurso que escolhera percorrer e que ainda não conseguira.


A Madalena fora contra a lavagem cerebral desde que se tornara Presidente dos Amantes da Monarquia, e agora que esta lavagem cerebral a estava a impedir de tratar da lavagem das ruas, "Que Injustiça!"

Fez de tudo para sujar tudo e para tentar convencer os outros a fazê-lo. Bem, pelo menos cumpriu um dos objectivos. Tentando inserir-se numa sociedade que considerava ser de pessoas descrentes, começou a fumar para deixar as beatas no chão. Acertava sempre com as garrafas de vidro na reciclagem do papel e punha todas as embalagens na comida.

Tudo começou a piorar quando começou a beber muitas cervejas de garrafa. Sempre na rua, claro, dava o último gole imediatamente antes de partir a garrafa no chão. "Só uma pessoa muito boa, aliás, só eu conseguiria varrer todos estes pedacinhos..."

Longe de se encaixar mais na sociedede, era insultada pelos seus potencialmente futuros colegas, vaiada pelas freiras, agredida pelas crianças e assustada propositadamente pelos idosos. Começou a ficar deprimida, muito deprimida. Tudo lhe corria mal.

Mas desistir estava fora de questão, e a sua força de vontade aliada à sua depressão fizeram-na sempre beber mais e mais.

Já não a atendiam nos bares, portanto andava com uma mochila bem pesada com litros e litros de cerveja engarrafada. Já não consegui andar direita, sempre que andava numa rua, por muito larga que fosse, acabava por tocar nos dois lados.

Um dia estava cansada, farta de carregar garrafas de um lado para o outro, e decidiu esvaziá-las todas para ficar mais leve. Ainda vomitou duas vezes em sítios diferentes, enquanto gaguejava "Limpem, limpem!"


Quando evitou o terceiro vómito teve mais um grande azar. Partiu os óculos, por curiosidade referidos por todos os que os viam como óculos de fundo de garrafa. Ficou quase cega, mas sempre era mais porcaria no chão, podia ser que fizesse algo.


Durante sete horas, a tentar ir para casa, apenas consegui perceber que cá fora se tinha posto a noite. E já próxima de casa, sem que fizesse ideia, foi atropelada por acidente. Estranhamente, o condutor do camião do lixo teve um acidente cardio-vascular e perdeu o controle do volante, ficando a Madalena esmagada e a morrer. Os enfermeiros já não chegaram a tempo dela, mas o lado esquerdo do condutor sobreviveu.

Ironia do destino, o Sindicato Higiénico está hoje a tentar contratar um condutor e um homem do lixo (um dos presentes no acidente, onde partiu uma perna, mudou de profissão, hoje é farmacêutico) e não encontra ninguém.

"Estar no fim do mundo é uma deliciosa aventura!"

Naquele dia decidiu que queria deixar de ser normal.

A Educação religiosa fez com que dos 2 aos 57 anos fosse todos os dias à missa, e ouvia sempre o padre Avenário, do alto dos seus 138 anos, a bradar aos céus que:

"Estar no fim do mundo é uma deliciosa aventura!"

E sentia-se gulosa, queria coisas deliciosas. Precisava não só de uma, mas de várias aventuras deliciosas na sua vida. Escolheu logo a mais complicada. Dois dias antes de ter decidido, o autocarro que ia até ao fim do mundo tinha acabado.

Bem, apesar da educação religiosa, ao menos não decidiu ir de joelhos até ao fim do mundo. Ainda considerou ir a fazer o pino. Por muito que não chegasse, ia de acordo com a sua ideia de deixar de ser normal.

Pensou, repensou e quase desistia, a pensar que o fim do mundo havia de estar cheio de gente, e que no meio deles havia de ser difícil não ser minimamente normal.

No fundo, estava era a precisar de uma chávena de mel para se sentir mais fresca, e assim que acabou o jantar pôs-se a caminho.

E nunca mais voltou atrás, mesmo quando se lembrou que tinha deixado a porta aberta.

Chegou? Não se sabe, mas que felizmente já não se pode sentir normal, não.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

viver ou desmorrer

Quão difícil é desabraçar? Muito, muito mesmo e bem mais difícil que abraçar.

E ainda por cima mau, bem mau. Ou a outra pessoa não quer ser desabraçada ou, mesmo que queira, vai ficar para sempre um cheiro ténue do que sentias quando abraçavas.

Realmente, para abraçar não custa nada, há um admirável mundo novo à nossa frente, e para ele abres os olhos enquanto sorris.

Não te podes reprimir e evitar abraçar para fugir ao desabraçar nem, tampouco, evitar desabraçar só porque gostas de abraçar enquanto as facas se espetam no teu peito.

Não penses demais, mas não despenses. Ou seja, abraça e desabraça quando tiver mesmo que ser. Fá-lo como se não houvesse amanhã, mas não te afastes do teu pensamento, ou pelo menos não te desaproximes das tuas opções na vida.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Desafio

Ora cá vamos a um desafio, proposto pela Leeloo...

As regras são:
colocar uma foto pessoal nossa e responder às seguintes perguntas com títulos de músicas de uma banda ao nosso critério.


Banda... 'The Rolling Stones'

1) és homem ou mulher? 'Sympathy for the Devil'
2) descreve-te: 'I'm Free'
3) o que as pessoas acham de ti? 'Midnight Rambler'
4) como descreves o teu último relacionamento: 'She's a rainbow'
5) descreve o estado actual da tua relação: 'Let's spend the night together'
6) onde querias estar agora? 'You can't always get what you want'
7) o que pensas a respeito do amor? 'Jig-Saw Puzzle'
8) como é a tua vida? '(I Can't Get No) Satisfaction'
9) o que pedirias se pudesses ter só um desejo? 'Happy'
10) escreve uma frase sábia: 'Time Waits For No One'

Hão de ser avisadas as pessoas a participar, por enquanto, apenas a INCÓGNITA recebe o desafio.


quarta-feira, novembro 12, 2008

estranho, mas aprecia-se

Antes de sair de casa diz sempre: "Pessoas que mentem estranhamente não me entediam, antes pelo contrário, quando vou a saltitar para o jardim luminoso."

E eu fico em casa só. Ao ir para a janela realmente vejo-a a saltitar feliz e alegre enquanto mostra ao mundo o seu fato de capuchinho vermelho. E eu que brincava com ela quando entrou para a dança e desejava-lhe bons saltitos.

Agora já não dança, e tenho que passar a vida a desejar-lhe bons saltitos. Mas ela continua feliz. E não só sorri muito como se farta de causar sorrisos por todo o lado por onde saltita.

No fundo, consegue ser uma benemérita da nossa sociedade, e nove vezes por dia vai saltitanto por essa cidade fora até ao jardim luminoso, sempre a criar sorrisos. E estranho ou não, os mentirosos também se fartam de sorrir sempre.

sair e voltar do mundo, para o mundo ou no mundo, elas multiplicam-se

Estou ansioso e expectante pela música seguinte. Assim que ela começar eu saio de casa. Não funciono com despertadores, e fiquei viciado neste hábito.

Mas ela continua feliz. Quase não consigo perceber como é que ela tem paciência para mim, muito menos como é que ela continua feliz.

E eu próprio não percebo o meu hábito muito bem. Porque é que me arrisco a ouvir o início de uma música que se calhar adoro e tenho que sair? E corro o risco de encontrar pessoas que nºao interessam a ninguém.

É certo que a tal música que me expulsa deixa em mim alguma vontade de voltar para ela quando estou por fora. Mas eu não sou casado com uma música, nem nunca vou ser. Não devia fazer-me sentir saudades.

E tenho saudades, apesar de tudo. Dela, aliás delas, mas quase que mais dela, da música desaparecida. Mas lá feliz anda ela, a mulher, portanto algures no meio devo fazer algo bom.

porque é que alguém se lembra da hipótese de eu desaparecer por causa de um motivo tão estúpido?

É agradável, usa saltos altos, tem tudo para ser a mulher da minha vida. E isso chateia-me. Não, não estou armado em professor mas faz-lhe mal inspirar tanto fumo só por prazer. Mas ela lá sabe, o que o cigarro lhe dá eu não consigo dar.

Mas continua a transtornar-me constantemente o facto de ela nunca andar com isqueiro. Diz que não tem espaço, e eu tenho sempre que fazer uma pesquisa exaustiva em todos os bolsos sempre que me pede lume. E está sempre no último, comece eu por que bolso começar. Acreditem, eu já experimentei.

Realmente, ela sabe que isto me irrita, eu já nem resmungo. Mas, mesmo assim, passa a vida a dizer que não tem espaço nenhum, que a organização diária falha até com as chaves. E diz que se eu alguma vez desaparecer, vai ser obrigada a começar a andar com o isqueiro nos saltos...

domingo, novembro 09, 2008

quase diário com quase noção do mundo e com quase satisfação

Num dia de manhã levanto-me e saio de casa. Há um buraco no passeio. Não o vejo e caio nele.

No dia seguinte saio de casa furioso com uma pá. Fui tapar o raio do buraco. Consegui, correu bem, mas perdi três autocarros no processo e já não consegui entrar no estúdio.

Ao 3º dia saio de casa bem-disposto. Apetece-me passear, perder-me, distrair-me. Correu bem.

Ao 4º dia não saio. Reparei que estava a perder a razão e a memória. Já nem sequer sabia o diccionário de checo-turco-medieval de cor. Pensei que, aos 60 anos, e sem os excessos da juventude, isto não acontecesse.

Ao 67º dia saí de casa. Tinha decidido correr. Não consegui sair dos degraus.

Ao 7º dia saio de casa e dou-me conta de que, no meio disto tudo, se calhar perdi mesmo a noção das contas e das horas. Saí às três, a pensar em apanhar sol, e afinal estava de noite.

sábado, novembro 08, 2008

Livro de Instrucções para Dizer Palavrões

-Usar com cuidado e humor, e foge a qualquer prazo de validade, a menos que a mãe do insultado já esteja morta.

-Não tome Palavrões depois de se deitar.

-Os Palavrões são aconselhados a pessoas com doenças terminais.

-Contra indicações:
-má utilização pode causar violência desnecessária.
-a má utilização pode piorar drasticamente o humor.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Livro de Instrucções para Andar Todo Drogado

-Não veja o "Memento", e se já o tiver visto, veja se bebe muito antes de começar a Andar Todo Drogado, senão vai acabar todo tatuado.

-Fume Charros sempre que puder, especialmente se tiver que escrever tudo o que lhe vier à cabeça.

-As drogas têm prazo de validade, mas isso só afecta o sabor. pode Andar Todo Drogado por causa de algo que surgiu durante o nascimento do seu avô.

-Escreva a sua morada num papel, junto a uma nota de 20 euros. Se estiver Demasiado Drogado e tiver que ir de táxi para um sítio qualquer, a sua morada é sempre uma boa ideia.

-Não ande Todo Drogado se se sentir albino, experimente simplesmente alucinogénios naturais.

-Evite fugir ao pé-cochinho da Polícia, senão eles vão perceber que está Todo Drogado, e não ande com o Livro de Instrucções senão fica preso até aos 92 anos. Se já tiver 92 anos, drogue-se todo à vontade, ande ao pé cochinho em frente a todos e escusa de deixar o Livro de Instrucçóes em casa.

domingo, novembro 02, 2008

A falta de originalidade dá em tragédias

Apetece-me andar e não consigo. Esticar as pernas, lá isso consigo, mas o raio da caneta não quer sair de casa e não me deixa ir sózinho.

Está tudo a olhar lá fora. Parecem uma turba furiosa, mas é só a sociedade que quer que eu entra ou saia, consoante a perspectiva. Mas eu não quero. Quero dizer, não me apetece assim muito. Nem sequer me apetece vestir a camisola para sair, e muito menos lutar contra as memórias que ela traria.

E porque é que eu guardo uma coisa que me ataca com memórias? Não sei bem. Ou se calhar até sei. Não a guardar implicaria arrumação e lixo. E eu lido estupidamente mal com eles. Prefiro lutar contra ou com as memórias. E bem desarrumadas, como eu gosto.

Tenho é muita inveja das crianças. Não por saberem pouco das coisas por que têm que passar ao crescer, se bem que isso até possa estar incluído, mas pela alegria enorme que sempre descobrem em tudo... Enfim, tanta alegria espalhada pelo mundo...

E eu aqui parado. A chorar não, ao menos isso, a chorar claro que não.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Hoje acordei com a missa, e não, não estava a ser visitado por Deus

Hoje acordei com a missa.

Se vivo perto da igreja? Sim, por acaso até vivo, mas nem foi o caso de as beatas andarem aos berros, de os sinos não pararem de tocar ou de haver um desfile de crianças barulhentas a celebrar seja lá o que for... Foi mesmo na televisão, maravilhas da Tvi, fiquei a saber que se toca tuba nas missas portuguesas.

Claro que isto, para quem é apanhado assim de repente, levanta logo duas questões: afinal porque é que alguém dorme com a televisão ligada, ainda para mais na Tvi, e mas afinal o que é que este gajo tem contra a missa, a religião é uma das bases das civilizações etcetera e tal.

Começando pelo fim, não consigo perceber a vertente de auto-comiseração/cultura da desgraça que há à volta do cristianismo. "Senhor, não sou digno que entreis na minha morada mas dizei só uma palavra e eu serei salvo"? "Pensamentos e palavras, actos e omissões, por Minha culpa", Minha culpa, minha TÃO grande, grandessíssima culpa.


Porquê? Porra, eu tive uma educação católica, mas desde cedo que percebi que isto tudo era uma merda, que há desgraças constantes, perdas incontornáveis, sofrimento perene. E agora vou pôr as culpas em mim? Era só o que faltava. Aparentemente o que se passa é que tudo o que acontece de bom é feito por Deus, e tudo o que é mau é feito pelos homens...


Que coincidência. (Ainda por cima, tanto quanto parece, Jesus devia ser um gajo fixe, ele de certeza que não se importava de entrar nas casas das pessoas, independentemente da arrumação, pelo visual dele o gajo só podia ser um gajo relaxado... Aquela gadelha e o barbão não enganam, se ele passasse hoje à porta da igreja de certeza que o olhavam de lado...)

Bem, antes que me perca, porque é que se dorme com a televisão ligada? Insónias, Whiskey ou falta dele, agora escolha.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Escrever é possível, mesmo para um analfabeto, mas muitas vezes devíamos guardar os seus resultados

Empurrar letras. Até me deram algum apetite, mas a primeira coisa que me ocorreu foi mesmo o Fu Manchu, que eu lia quando era miúdo.

Sabe bem empurrá-las e criar algo, em vez de simplesmente me empanturrar. Tal faz-me sair de um lugar frio, onde nem sequer o luar chega. E claro que há experiências menos agradáveis. Se sentir dor é mau, ler os resultados da dor de outro tem à partida tudo para ser pouco apelativo.

E ainda bem!

Imaginem que a Margarida Rebelo Pinto continuava a ter tanto sucesso como tem mas, em vez de escrever baboseiras ainda piores que as minhas (digo eu com lata), escrevia todos os resultados da sua dor.

Ao menos hoje em dia a sua escrita só implica a dor de quem a lê.

indecisões no meio de confusões

Ao tentar calçar meias de vidro, armada em tonta, ficou com os pés todos comprimidos.

Ficou com pena porque já não podia sair de casa mascarada de Mary Poppins e passou a noite quase toda a atirar guarda-chuvas de chocolate ao ar.

A certa altura, apesar de tudo ainda a querer empinocar-se, lembrou-se que lhe tinham assaltado a casa e lembrou-se que perdera o seu pente, ficou só a caixa de cartão. Que remédio, pensou ela, vou ter que me tentar pentear com os tais guarda-chuvas de chocolate a fazer festas no cabelo.

No meio do tédio pensou se havia de tomar duche ou drogar-se toda. Nem uma coisa nem outra. Teve preguiça de tomar duche e estava já cheia de comichão no nariz.

Apesar de tudo, houve noites bem piores.

terça-feira, outubro 28, 2008

O puto zeca já foi puto, e ainda é

"Assim fico a pensar que afinal não tenho muita barba." - pensou o Zeca. Também, seria terrível para um crescido que ainda se sente uma grande criança ter um aspecto tão adulto.

Mesmo com muita barba, trazia sempre consigo o burrinho. O tal burrinho que não servia para nada. Não o transportava e só trazia flores, mascarado de hippie. Mas era simplesmente daqueles casos em que, mesmo sem jogar com ele, era óptimo.

"Raio do brinquedo." - imaginava o Zeca sempre que pensava no seu poder. E não deixava de pensar que ele não voa, mas que consegue ser mais bonito que muitos que voam.

Tal como não há verdade absoluta, o brinquedo perfeito para o mundo inteiro não existe. E, se calhar, isso só fazia o Zeca passear ainda mais satisfeito o burro florido para todo o lado.

"Único, só meu, e ninguém poderá nunca ter um igual."

sexta-feira, outubro 17, 2008

O som e as palavras

Daqui a 2 dias e meio vão crescer palavras em todo o lado. Já foram regadas por todos, o druida da aldeia tomou especial cuidado e parece que há bom caminho. Ainda por cima o Zacarias é mudo e, ao que consta, vai-lhe aparecer uma palavra na testa e pela primeira vez na vida todos o vão perceber.


Não é que ninguém perceba os grunhidos intensos que preenchem a vida de toda a gente, mas é um bocado cansativo e nunca se tem a certeza de nada. Quem pede um café e quer adoçante em vez de açúcar perde ali meia hora a grunhir para que percebam o que a pessoa quer. E no fim, está tão cansada que afinal vai precisar de mais um.

Falando em palavras e em açúcar, ouvi uma novidade espantosa que preciso de partilhar convosco. Parece que os Morangos Com Açúcar vão deixar de ser dobrados por computadores e finalmente vão parecer pessoas reais a falar. Que maravilha… Acho que se calhar vou ficar com algumas saudades dos primeiros, mas ninguém pára a evolução tecnológica.

quinta-feira, outubro 16, 2008

O magnífico, e tão pequeno, poder das palavras...

Uma cereja chorava em solidão enquanto o funcionário berrava: "Já. Loucamente suave!"

O Joy da natureza estava estragado e fez desaparecer o olhar do meu filho Vasco. Parece que é impossível sentir dor sem ter amor, mas eles que se calem.

Instantaneamente, afundei os açores para as moscas fugirem ao destrambulhamento.

Querida janela

Houve um tempo em que a minha janela se abria para me chatear. Depois, decidiu comprar-me um divã e ficou bem melhor...

Houve um tempo em que a minha janela dava para me ajudar a passar o tempo. Mas ela era terrível era a lamentar-se acerca da sua vida.

Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre a vida amorosa dela.
Sinceramente, acho que prefiro mesmo cadeiras, por muito que tentem sempre fazer com que fique quieto.

Às vezes abro a janela e suicido-me, o que já me fez arrepender-me inúmeras vezes. Uma janela não merece tanto. E ainda por cima, tenho sempre que ir fumar à janela.