segunda-feira, maio 18, 2009

Tertúlia Virtual

Sei que vou passar 10 anos numa pequena ilha deserta no Pacífico, e só posso levar cinco coisas. Demorou um bocado a pensar.

Posso levar até pessoas. Será que levo pessoas? Levo uma pessoa, sim. Necessariamente. Do sexo feminino e por quem eu me sinta atraído. E que me interesse, claro.

Um tabuleiro de xadrez.

Tenho que levar um livro. Ou o Cem Anos de Solidão, pelo título aqui tão apropriado, ou o Crime e Castigo, para me lembrar constantemente do período de 10 anos como uma pena, a castigar-me por algo absurdo.

Apesar de eu ser perto de inapto para a música, ser-me-ia impossível estar dez anos sem música. levava uma guitarra ultra-resistente, com cordas de aço, e ia aprender a tocar minimamente algo que me fizesse lembrar o trabalho dos que não só não são inaptos, como não estarão no raio da ilha.

Um bloco em branco do tamanho das páginas amarelas, acompanhado de uma caneta. Para escrever e desenhar...

quinta-feira, maio 14, 2009

Não me cerejes

Não sei o que fazer. Quem encontrar ou como falar russo.

Ando confuso. Acho difícil alguém ter paciência para mim. Eu, pelo menos, não teria. Qualquer coisa em demasia e qualquer coisa em falta. A sociedade é muito complicada.

Penso, penso e continuo sem perceber nada. Será pelo excesso de ferros no meu corpo ou perdi alguma coisa desde os cinco anos? Com cinco anos recebi vários elogios. Só que era, talvez, demasiado baixo. Arranjei um rumo. Tinha que crescer. E agora? Agora que já ultrapassei há anos o meu receio de ficar anão?

Já me disseram para recorrer à psicologia, para me tornar budista e para tentar beber um chá de cereja escandinava sempre que acordasse.

Tentei duas das hipóteses de cada vez, e fiquei muito preocupado com os escandinavos. Noruegos, suecos e dinamarqueses capazes apenas de pescar bacalhau e de plantar frutas demasiado salgadas.

Três países de misérias, que até à data não ocupavam mais do que três segundos do meu pensamento por mês. Apenas os relembrava quando me perguntavam o nome da capital do Burkina Faso, e me surgia sempre na cabeça a palavra Assen. Assim que pensava, sabia que estava errado, e sabia logo que Assen era uma cidade escandinava. Não sei de qual dos países, mas que é escandinava, tenho a certeza.

E agora penso frequentemente nesses coitadinhos. Sempre que tomo banho, lembro-me, com um arrepio, que não percebo como é que as cerejas escandinavas são usadas como isca. E depois, as que resultam, são retiradas do estômagos dos bacalhaus apanhados, e usadas para fazer chá.

E por causa disso, estou a pensar em tornar-me vegetariano. Coitadas das cerejas. Ninguém merece ser comido duas vezes. As coitadinhas das cerejas também sofrem.

Como é que os escandinavos vivem? Ele nunca vão seguir um rumo correcto. It’s not meant to be! Bem, na realidade tudo isto começou por causa da minha procura por um rumo. E deixa-me preocupado esta questão do rumo.

Será que eu estou a ser castigado por já ter bebido chá de cereja escandinava cerca de 66,3 vezes? Ou será que só me vou sentir melhor quando uma cereja escandinava beber um chá a partir do meu apêndice?