sexta-feira, dezembro 18, 2009

Candeeiro

Velho, Amanhã, Árvore, Candeeiro

Coitado. Tão velho, nem se consegue mexer.

Muito já ele viu. Desde o casal feliz que encontra o médico e fica a saber que nasce uma família, ao lamento sofrido de quem foi traído.

Pelo menos, a árvore não se vai embora. Vai crescendo. O pior é quando cheira mesmo mal e o cão do 23 o escolhe.

Já viu de tudo. E agora? Sem luz, o que faz? Um pouco mais do mesmo, não vai a lado nenhum.

Pode ser que amanhã alguém o arranje. Que lhe dê uma luz intensa, colorida.

Vai-lhe fazer bem, dar outra luz. Sentir e dar a sentir outro brilho.

Felina

Apetece-me estar com ela, claro, mas não sei se devia. E se as suas garras saltassem e me ferissem? Mas tem garras? Parece que sim. Parece um gato tenro, a quem apetece acariciar, tocar, carregar para todo o lado... mas sabendo que elas estão lá. As garras, prontas a saltar.

Se calhar, vão-me fazer sangrar, de uma ferida funda, que não fecha.

Tenho algum medo mas, tal como um gato, quando ronrona eu não consigo fugir. Tenho que lá ficar, sentir o seu calor, aumentar a sua alegria. Eu consigo.

Consigo sempre pegar nos gatos. Quase sempre, pronto. E isso faz com que queira ir atrás daquela felina que caminha sensualmente à minha frente.

Já tenho duas coisas a lixarem-me a vida. As garras e o «quase». Agora, não me saem da cabeça aquelas vezes em que fugiram, e só me atira mais para baixo, lembrar-me de quando fiquei só. Só, frustrado e a sangrar. Sim, de uma dessas feridas que não saram.

E agora?

Parece que estou farto de mim, que queria ser ágil, rápido, eu próprio um gato, que cai sempre direito e que só se magoa se lhe quiserem fazer mal.

Quero deixar de ser quem sou, apesar de gostar muito de muito do que já fiz. Agora já não me surpreendo.
Escrevo-te

Em linhas estranhas

Rasgam o papel

Mas não chegam

Não sei onde é

Não consigo sair

Inominável

Indescritível

Inexistente

Onde?

Para onde vou?

Para onde quero ir?

Se para onde não quero

Mas não chega

Preciso de uma meta

Para cruzar

De uma luz

Que me alumie o caminho

Lê as minhas palavras

E queima-as

Que a chama chegue aos meus olhos

Beijo

O amor a surgir

O até já que sabes que é um adeus

A crença e o orgulho no filho

A banalidade animal de que precisas

A testa húmida, porque a cabeça atrás merece

O cumprimento quotidiano

O comprimento do que já se viveu

Pode saber mal

Quando dado com pena

Mas sabe tão bem

Quando nasce do quase nada

Medo

Onde estás?

Tu, que não me conheces

Não tens pedras para me atirar

Se calhar

Tenho que me vender um pouco

Talvez resulte

Não tenho que me desculpar

Ainda, só ainda

Dizem as más vozes

Raio de mundo

Não sabe estar calado

terça-feira, dezembro 15, 2009

Ali

Ali

Onde te levei

Onde sorrias

Ainda te lembras?

Sei que sim

Quase sorris, mas não consegues encontrar

Nem o caminho

Nem a força, o brilho

Passam-se décadas

Ainda o procuras

Até que te distrais com uma festa

Mas lembras-te...

Para onde vais?

Esqueceste-te?

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Algo

Preciso de algo

Conhecer

Explorar

Acordar a surpresa

Queria

Esperar o inesperado

Vejo, mas não lhe toco

Eu?

Espreguiço-me

Respiro

E não desaparece

O desejo

O sofrimento