terça-feira, dezembro 30, 2008

"Estar no fim do mundo é uma deliciosa aventura!"

Naquele dia decidiu que queria deixar de ser normal.

A Educação religiosa fez com que dos 2 aos 57 anos fosse todos os dias à missa, e ouvia sempre o padre Avenário, do alto dos seus 138 anos, a bradar aos céus que:

"Estar no fim do mundo é uma deliciosa aventura!"

E sentia-se gulosa, queria coisas deliciosas. Precisava não só de uma, mas de várias aventuras deliciosas na sua vida. Escolheu logo a mais complicada. Dois dias antes de ter decidido, o autocarro que ia até ao fim do mundo tinha acabado.

Bem, apesar da educação religiosa, ao menos não decidiu ir de joelhos até ao fim do mundo. Ainda considerou ir a fazer o pino. Por muito que não chegasse, ia de acordo com a sua ideia de deixar de ser normal.

Pensou, repensou e quase desistia, a pensar que o fim do mundo havia de estar cheio de gente, e que no meio deles havia de ser difícil não ser minimamente normal.

No fundo, estava era a precisar de uma chávena de mel para se sentir mais fresca, e assim que acabou o jantar pôs-se a caminho.

E nunca mais voltou atrás, mesmo quando se lembrou que tinha deixado a porta aberta.

Chegou? Não se sabe, mas que felizmente já não se pode sentir normal, não.

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