domingo, novembro 09, 2008

quase diário com quase noção do mundo e com quase satisfação

Num dia de manhã levanto-me e saio de casa. Há um buraco no passeio. Não o vejo e caio nele.

No dia seguinte saio de casa furioso com uma pá. Fui tapar o raio do buraco. Consegui, correu bem, mas perdi três autocarros no processo e já não consegui entrar no estúdio.

Ao 3º dia saio de casa bem-disposto. Apetece-me passear, perder-me, distrair-me. Correu bem.

Ao 4º dia não saio. Reparei que estava a perder a razão e a memória. Já nem sequer sabia o diccionário de checo-turco-medieval de cor. Pensei que, aos 60 anos, e sem os excessos da juventude, isto não acontecesse.

Ao 67º dia saí de casa. Tinha decidido correr. Não consegui sair dos degraus.

Ao 7º dia saio de casa e dou-me conta de que, no meio disto tudo, se calhar perdi mesmo a noção das contas e das horas. Saí às três, a pensar em apanhar sol, e afinal estava de noite.