O gajo que achava demasiada piada a si próprio andava sisudo, preocupado, preocupadíssimo.
Um dia em que se achava estranhamento sério decidiu ver sózinho, a fazer o pino, um pouco do Monty Python's Flying Circus. E teve azar. Caiu-lhe logo a piada tão boa que era mortífera, utilizada na WWII.
E começou a ter medo de si próprio. Realmente, não se costumava rir, ou pelo menos não muito alto. A vida inteira achara que rir um pouco só lhe podia fazer bem. E gostava, gostava muito de se rir um pouco, e raramente conseguia.
Em vez de parecer um miúdo viciado na comida da mamã, andava viciado nas suas próprias piadas, achava que tinha encontrado a única coisa capaz de o fazer rir. Os outros produziam quanto muito alguma comichão e um sorriso mal esboçado.
E nesta altura, em que andava muito mais preocupado e sério, cada vez mais com a certeza de que não ia ganhar a lotaria nem um tio milionário à beira da morte, ria-se menos, muito menos. Já cortara a risada diária antes do pequeno almoço e ria-se por regra duas vezes por semana.
Andava com o sentido de humor um pouco mais adormecido, mas com o ego inchado, superior ao tamanho do sol. Portanto tinha medo, medo que uma das suas poucas piadas fosse tornar-se a tal. Tornar-se mortífera e aniquilá-lo de vez.
A existir alguma piada mortífera, apenas podia ser muito boa, genial, fantástica, ao ponto de enganar a vida, e só podia ser dele.
E ainda por cima o seu médico pessoal tinha-se tornado budista e emigrado para o Tibete.
Estava preocupadíssimo, e tornou-se um gajo insuportável. Ninguém o ia poder ajudar e ele perdera o sono; e o riso. Mas ganhara, segundo os seus pensamentos, anos de vida. Agora vivia calmo, sisudo, triste, sério mas vivo.
Agora claramente já não acha demasiada piada a si próprio, aliás a achar algo, acha piada de menos a si próprio.
Anda é preocupado, porque está convencido de que a piada mortífera anda aí, e vai matar alguém sem que ele possa fazer nada. Mas ao menos não se vai rir quando ele morrer, acha ele, portanto não morre.
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