domingo, janeiro 25, 2009

Duas Bofas

Filho de um grande borguista já com 72 anos, o homem seguiu os seus passos e acabou por se tornar um comuna. Um comuna a sério. Não comia crianças ao pequeno-almoço mas claramente sabia borgar.

E os assuntos estavam intimamente ligados. Fazia-lhe confusão que o pai tivesse tido tantas dificuldades em borgar com mais de duas pessoas como companhia no meio da rua porque isso já era um ajuntamento segundo a lei fascista, papal ou fosse lá o que fosse.

Por sorte, nascera no 25 de Abril, portanto quando lhe deu para borgar já ninguém o podia chatear.

Lutava na mesma contra o sistema, a meio das suas borgas, sempre em nome do pai, e julgava que já sabia tudo.

Um dia viu que Salazar afinal ainda estava vivo. Bem vivo e casado, e andava ainda mais restritivo. Estava acompanhado, na arrecadação de um amigo em arrumações, quando a meio de um pouco barulhento jogo de sardinha foram interrompidos.

Depois de bater à porta, o novamente nascido ex-líder teve que exercer o seu poder. Não lhes podia dizer que era um ajuntamento, já não havia essa lei. Não lhes podia dizer sequer que estavam a roubar a caixa de esmolas.

Limitou-se a dizer em sussurro: "Ou vocês se calam ou dou duas bofas na minha mulher!"

A mini multidão, se a quiserem chamar assim, acalmou-se e acabou por se ir embora. O borguista comuna mudou as suas ideias. O comunismo não tinha força suficiente, já não lhe servia para nada.

Pensou, pensou sobre as palavras do ex-defunto e sempre aprendeu alguma coisa, já é uma pessoa diferente.

Agora já não é comunista, mas sim um monárquico a estudar para padre e acordado todos os dias apenas das 8h00m às 20h00m.

A vida evolui. E realmente nunca mais pensou que nunca conseguiria comer crianças ao pequeno-almoço, nem nunca mais pensou em borgar. Vivendo e aprendendo, este passou a ser o seu lema.

2 comentários:

Anónimo disse...

temos de fazer uma gravação disto em formato de vídeo e colocar no you tube.

mm

Anónimo disse...

"Se não se calam, eu dou duas bofas na minha mulher!"
Agora imagina a educação dos filhos:
"Se não arrumas o quarto, deixo cair um ferro de engomar nos pés da tua mãe" ou, "Se não lavas os dentes, arranco as amígdalas da tua avó, à chapada."
O real confunde-se com o lírico.