Há coisas fantásticas, não há? E sem dúvida que temos sorte por sermos portugueses e falar português. Que língua tão linda, espantosa, digna de escritores mesmo que eles próprios não mereçam. Mas basta de coincidências. Chui. Que palavra estranha. Aposto que toda gente já a leu algures. Na banda desenhada, na televisão, se calhar até numa casa de banho pública.
Há umas noites, perdido obviamente em pensamentos acerca do poruguês, quando estava quase a descortinar o neerlandês, passaram dois polícias por mim a transportarem um preso. Na altura estava num sítio publico, e a revolta começou primeiro a ronronar, crescendo até ao som de um terramoto enquanto a distância aumentava.
Depois de "A tue mãe é um homem!", "Vão ser agressivos para a bielo-rússia!" ou "Fiat 600 na virgem e nunca corras que a bófia já te ultrapassou com os copos!", no meio de vários insultos extremamente inteligentes, bem construídos e educacionais, saiu da boca de um grande monárquico a maravilhosa palavra "Chui!"
E aí percebi tudo, ou acho que sim. Se, até à palavra única e especial, os excelentíssimos agentes da autoridade tinham continuado a andar calmamente, guiando caridosamente o prisioneiro para um sítio mais abrigado, ao ouvirem "Chui!" tudo mudou. Melhor que as tropas de elite, organizaram-se rapidamente, tendo um dos agentes começava a descer calmamente a rua em direcção a revolta outrora ronronante. O outro correu melhor que o Obikwelu, para vergonha deste, até chegar até à multidão.
Qual não foi o espanto da multidão com a transformação mágica do meliante numa borboleta que desaparecera do alcance de todos antes que alguém conseguisse fazer alguma coisa.
Os agentes da autoridade, após uns momentos de calma reflexão silenciosa enquanto se aproximavam, decidiram explicar à multidão o perigo da utilização criminosa da palavra "Chui".
"Tal palavra é o pior insulto desta língua nobre que temos a sorte de poder utilizar. Sei perfeitamente que a palavra «Chui» apenas pretende afectar o poder do excelente anão que foi o meu pai na minha cabeça. Ninguém, ninguém a pode usar."
Quase a chorar, o senhor acrescentou: "Só a minha mãe a pode usar, por ser filha de um agente, casada com outro e mãe de outro. E mesmo assim, só a pode utilizar quando está numa daquelas alturas do mês."
Depois de o sermão ser absorvido por todos, enquanto os agentes se afastavam, a múltidão juntou-se e, em uníssono, decidiu rezar uma "Avé Maria" de joelhos, apenas para garantir que a pobre língua portuguesa não rebolava na campa.
Foi um dia diferente. Aprendi quase tudo o que precisava se saber. E a frase "O Chui é nojento!" passa a fazer muito mais sentido, apesar de não a dizer.
2 comentários:
Hoje, perguntei a um polícia por uma rua e palavra de honra que me lembrei de ti. Ele era simpático, mas o ar boçal dele e a conjugação dos tempso verbais de forma desastrosa fez-me sorrir e lembrar do teu - admite - preconceito irresistível a favor de humor anti-polícia...
manel
humor anti polícia sem dúvida. preconceito irrestível nem por isso. uso a minha arma essencial para lidar com a estupidez. o humor e sepero sempre faze-lo.
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