segunda-feira, novembro 29, 2010

Quase soneto, quase nada II

A imaginação é uma prisão

Quando não deixa o sol nascer,

E nunca traz orfeu

Prende-me à cama sem sono


Chicoteia-me com tudo

O que já foi, e o que não foi

Quando? Quando vai ser o que não foi?

Sempre. E nunca durmo


Já encontrei o baco em dias

Quando não quero encontrar ninguém

Lá me diz que ainda estou vivo


Depois de me matar um pouco

Quase pareço melhor, mas

Imagine-se, a prisão volta

Quase soneto, quase nada

Onde estarei eu que nada sei

No aquem terra sem caminho

A fazer algo, concerteza,

Mas sem certeza de nada


Novos negros que se adivinham

Assombram a minha vida

Mirrando a cada momento perdido,

Perco sem nunca hesitar


Ideias que me encarceram,

Aguaceiros que não me lavam,

Ondas que não alcanço


O caminho que não descubro,

O nevoeiro que me ensombra,

A dor sempre que acordo

quinta-feira, novembro 25, 2010

Amo-te, sabias?

mentir, médico, atenção, custa, filme, deflagrar


Não. Desta vez não vou mentir. De hoje não passa!

Acabei de sair do médico, e encontro-a ao virar da esquina. Dois dedos de conversa, e dou por mim sentado numa esplanada com ela.

Está a voltar da casa de banho, e eu nem sei o bem o que é que vou dizer. A minha vida dava um filme, mas o realizador é um cabrão...

Começar não custa, até pode ser com uma piada. E depois? Depois é que não sei. A atenção sugadora que que adivinho atrás daqueles olhos intimida-me. E eu preciso de a conseguir. Pelo menos preciso de tentar. Estou há tantos anos à espera, tem que ser hoje! Já não a via desde a páscoa passada, e todos os dias penso nela.

Agora vem com dois copos de vinho num tabuleiro, e vai-se sentar.

Tenho de conseguir levá-la ao mar de emoções no qual navego há tanto tempo... A ver se acontece aquilo com que sonho tantas vezes, uma faísca, um relâmpago, um terramoto, nem sei... Seja o que for que possa fazer deflagrar o amor cuja mera imagem me consome desde que a conheci...