quinta-feira, setembro 03, 2009

Procrastinar

procrastinar
(latim procrastino, -are)
v. tr.
1. Diferir de dia em dia ou deixar para depois. = adiar, postergar, protrair ≠ antecipar
v. intr.
2. Usar de delongas. = delongar, demorar, postergar ≠ abreviar, acelerar, despachar-se

O Português tem coisas fantásticas. Aliás, os portugueses têm coisas fantásticas. Sim, os dois. A língua, sim, e os habitantes também, claro, os portugueses, esses bichos catitas.

Reparem nas várias e fabulosas formas que arranjaram para procrastinar. É caso para dizer que estariam certamente procrastinando, no processo de arranjarem cada uma delas. Mas arranjaram umas coisas bem catitas. Se os criadores do calão burgesso e ordinário (sim, todos nós) lessem mais e tentassem dar ainda mais vida a esta já de ainda crescente, de certeza que já teria surgido muitas vezes, em discussões, qualquer «Posterga-mos!», contra quem defendesse o árbitro vesgo, ou ainda um «Não mos procrastines! É já!» no fim de um decadente e etílico engate...

Quanto aos bichos catitas... Quase estou indeciso, neste momento, entre eu próprio procrastinar um pouco e deixar isto para depois, e realmente escrever mais um pouquinho... Que cargo o nosso... Somos o melhor país do mundo para se praticar a procrastinação... Come-se bem (muito bem, não me venham cá os franceses com lérias) e, acima de tudo, temos cá um clima... Sabe tão bem acordar e ficar a não fazer nada... Até podemos ficar a sofrer por se arrastar ad aeternum aquilo que tem que ser feito, mas ao menos sofremos «à grande». Com bom tempo, bem alimentados, e com boa companhia. Claro, não pensem que esse gajo que acabaram de ver a passar com um envelope volumoso debaixo do braço cumpre tudo. Teve a ver a Fátima Lopes, ou a ler qualquer coisa da Margarida Rebelo Pinto, coitado, enquanto sofria, porque sabia, havia vários dias, que não podia adiar mais, tinha que levar o raio do envelope à loja, até às 18.00h...

Espero que tenha conseguido. Isto acaba por ser o pior. Quando se sofre enquanto não se faz e se pode fazer aquilo que há para fazer, e depois, quando corre mal. Quando se sofre outra vez quando já não se consegue fazer o que havia a fazer aquilo. Aquilo que já tinha dado sofrimento e causado tanta angústia.

Acaba por ser mesmo péssimo, de quando em quando, especialmente quando está a chover, quando a carne ficou demasiado queimada, e quando os geralmente fieis colegas da constante procrastinação estão todos a fazer alguma coisa. E nem sequer apetece buscar a companhia dos ex-procrastinadores, nos seus intervalos...

Aí sim, dá vontade de dizer: «Queria era que isto tudo se procrastinasse!»

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