«Eu trabalho para o buraco negro onde nenhuma lei é válida.»1
Ainda bem. Ainda bem que nenhuma lei é válida. Que não há polícias de choque do buraco negro, escutas telefónicas do buraco negro, registos de informação no buraco negro. Já existiram, mas deixou de fazer sentido. Sem leis válidas, porquê pensar nelas? E porquê trabalhar? Também não percebo muito bem. Fora do buraco negro, metade do mundo pensa que peca, só por viver. Cá dentro, todos pensam que precisam de trabalhar.
Porquê? E para quê? Ninguém irá verificar a lei que não existe que diz que se deve trabalhar se alguém decide não o fazer. Fugir. Sair do buraco negro. Ninguém sai. Ninguém decide.
Por um lado, quero, preciso, vou... Um dia destes vou. Vou trabalhar para o buraco negro. Onde os olhos valem mais do que a cabeça. Fugir à lei que me empurra.
Por outro, não posso, não consigo, não devo... Cair assim, novamente, no buraco negro. Por vezes não o encontro. Já hesitei por pensar na vida sem leis que me protejam. Que me protegem. Imagino que sim.
1 Isto, disse William S. Burroughs, depois de reparar que tinha começado a chover.
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