Eu gosto do absurdo.
Não de tudo aquilo a que se costuma chamar absurdo.
Não gosto de desconfortos que tenha por razões imponderáveis que possam ser caracterizadas popularmente como absurdas.
Falo sim daquelas bem ponderadas fugas à realidade que são necessárias e que tentam, no entanto, ser colmatadas pela sociedade.
Infelizmente, vivemos albergados por uma razão quase informática que parece ter surgido para ficar com a revolução industrial.
Há que tentar tirar a realidade do seu eixo.
Chocalhá-la um pouco constantemente, às vezes muito.
Olhar para as coisas belas, milimetricamente estudadas, e fazer algo, o absurdo precisa.
Porque é que uma escultura de que todos gostam perde o seu valor quando deitada ao lado de um caixote do lixo?
Deixa de ser arte?
Ou ganha qualquer coisa?
Chegará a menos pessoas, mas talvez com mais força aos que a vêem.
Porque não pegar no feio?
Porque o feio absoluto não existe.
É uma não-pergunta.
Tudo pode ser deliciosamente absurdo, basta tirá-lo do seu poiso.
Que se fuja às acepções originais da natureza ou das criações humanas.
As funções preconcebidas deixam de interessar.
Tudo nos agrada, repugna ou nos é indiferente.
Porque não melhorar absurdamente as hediondas e anódinas parcelas?
Ainda não inventaram, nem será possível, mas tentam, tentaram e continuarão a tentar criar algo que pense.
Por nós?
Porquê e para quê?
Pensar é o que nos humaniza, não devíamos tentar criar um substituto para cansar menos a cabeça, ela não precisa de descanso.
Viver não é fácil, implica pensar, enganam-se os que procuram o que facilite essa capacidade.
Mas não se pode simplesmente olhar para o que já foi feito, claro que não.
É necessário ser absurdo, rasgar ou desprezar as manchas do passado de quando em quando, e baralhar o presente, criar o futuro.
Tudo pode ser usado como uma peça que engrandeça o absurdo, que faça aquilo de que a realidade precisa, tornar-se irreal, diferente.
Tirar o absurdo à realidade é matá-la, é rejeitar a vida.
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