terça-feira, outubro 20, 2009
Plágio
domingo, outubro 11, 2009
Já não se fazem guerras como antigamente
Bloqueio do Escritor
bloqueio
s. m.
Cerco em que, sem atacar os cercados, se lhes impede toda a comunicação do exterior.
escritor (ô)
s. m.
1. Autor de obras literárias ou científicas (com relação ao estilo, à forma que emprega).
escritor público: literato de profissão.
Realmente, ninguém me ataca, apesar de me sentir cercado. Por paredes negras e esmagadoras. Não impedem toda a comunicação com o exterior... Apenas aniquilam a minha vontade de chegar ao exterior. De quando em quando, o meu telemóvel não envia as mensagens. Já me ligaram, estando ele ligado, e fez greve... O bloqueio é lixado...
Não me apetece ligar a ninguém. Não quero comunicar com o exterior. Tornar-me num desses, esses que, de forma anódina, saíram do bloqueio e sobrevive. Com o bloqueio cruel, pelo menos sou diferente. Sei que algo não me deixa respirar. E quero conseguie fazê-lo. Mas aprendi algo. Aquilo que eu não sou. Ainda não sou (e espero não vir a ser, se isso implicar escrever o que devo) um escritor público.
Literato de profissão? Até tem alguma pinta. Imagina-te num bar, à noite. A dona dos olhos azuis misteriosos que não te largaram acaba por encetar uma conversa. Mostra interesse em ti. Quer saber de ti. E pergunta-te qual a tua profissão.
«Eu, eu sou literato»
Fica estupefacta, e já sabes que está no papo. Ficou tão boquiaberta, que já te aprontas para o próximo salto, não custa nada.
De qualquer maneira, creio que seria incapaz. Não de usar essa arma de engate – seria capaz, mas sentir-me-ia estúpido−, mas sim de me tornar um escritor público. Não é uma profissão estável. Daqui a uns tempos, estará classificado o «bloqueio de escritor público» ou, mais sonante, «bloqueio de literato». E eu não quero estar no meio dos «despedidos por bloqueio inultrapassável».
Igual?
Estás diferente
Já não pareço eu, dizes
Para não pareceres quem és,
Tu deixas-te confuso
O progresso, a vida, a história
Agora não te reconheces
É feio não te reconheceres
Acertas quase sempre
Aquilo em que não te reconheces é feio
Desculpas-te
O que se passou não é nada teu
E não te reconheces
Estás diferente
Vício. Viciante. Viciado.
Estas palavras têm algo a ver comigo.
Há vícios que se exterminam. É estranho. Parece que sempre fez parte de mim. E depois... escapuliu-se.
Foi estranho. Só reparei que já não roía as unhas quando me cocei com muita força. Parece que apanhei um táxi para um universo em que tudo está igual, mas não roo as unhas.
Viciante é uma palavra que não atribuía a mim, mas outros o fizeram, daí falar no assunto. Talvez por causa de um vício, que será talvez contagiante. Estou agora viciado nisto que está à vossa frente. A escrita. Será que penso no assunto dois dias antes, e reflicto que aquilo realmente merece passar para o papel? Claro que não. Escrevo porque me faz bem. Quando não escrevo, sinto-me estúpido, burro, inútil.
Mas porquê viciante, ainda assim? Deve ser o montro que há dentro de mim, e sai cá para fora, de tempos a tempos, em palavras, escritas ou, por vezes, faladas. Deve ser isso.
Ainda assim, não acredito muito nisso. Até gosto de mim, mas, de tempos a tempos, gostaria de tirar umas férias de mim próprio, e não posso.
Viciante não me soa real. Viciado, sem dúvida. E já conheci mais uns quantos.
De quando em vez, lá vem a conversa da ressaca:
«Já não escreves há quanto tempo?», «Não tens escrito, pois não?» ou «Já escreveste, desde...?»
Claro que as perguntas mudam muito, de vício para vício.
«Meteste quantos gramas?» - surge, em conversas entre toxicómanos (aqueles assim definidos pelas notícias e pelas leis).
Mas ninguém pergunta quantas palavras é que escrevi antes de jantar. Era só o que faltava, ir contar as palavras...
Escrevo porque sempre faz a serotonina saltar no meu cérebro (é o que todos os vícios fazem, não é?). sabe bem e é barato. O lado mau é conhecer melhor os meus podres, e escrever merda tantas, tantas, tantas vezes...
Sentidos
Que cheiro tem uma emoção?
Há dias em que cheira mal
Em que o mais valioso sorriso
Cheira a podre, se recheado
De ódio e inveja
Sempre que a estupidez apadrinha uma
Como filho bastardo
E não há nada a fazer
No entanto, quando ela se lembra
Porque tinha reparado
Na quele teu pormenor
Cheira sempre a rosas
Aquelas únicas, mágicas
Que não perdem o aroma
Porque não morrem
Porque há emoções que não se vão embora
Estão lá sempre
A que sabe uma acção?
Ao melhor doce que já provaste
Quando acredita em ti
Quando essa crença a faz dar um passo
E fica mais perto de ti
Quando espera por ti
E desculpa o indesculpável
Ou sabe a agridoce
Se for bem escondida
Estranha-se, mas aceita-se
E está tantas vezes podre
Que uma palmada nas costas pode saber a vomitado
Qual a textura de uma decisão?
Pode ser áspera
Uma segunda escolha pode ser letal
Derramar sangue
Quando as paredes que te esmagam
Nada de suaves têm
Algumas, protectoras
Como são aquelas reveladoras
Que te levam num opíparo leito
Para o centro do mundo que estás a criar
Que som tem o silêncio?
Há dias em que o silêncio se ouve em carinho, em amor
Um sorriso ouve-se noutro continente
Uma festa acorda-te, com o som de uma ode
Também há os outros silêncios
Os que mostram a revolta muda
Aqueles que fazem trespassar o ódio
Que fazem as palavras fugir
Que deixam o coração a sangrar...
Que cor tem o vento?
Há dias em que é cruel
Tudo negro à volta
Pessoas cinzentas, a andar sem sentido
Há outros ventos
Que deixam tanta cor
Vejo um arco-íris enorme
Que foi arrastado
Enfeita aquela noite especial
Em que não fechaste a janela
Tem todas as cores, que vai perdendo
Quando o vento se aproxima disfarçado de negro
Mas não é sempre
Nem conseguia
As cores acabam por sair
Indeciso, o vento
Confusa, a vida