terça-feira, outubro 20, 2009

Plágio

O meu texto «Não me cerejes» foi publicado no Notícias da Portela, e fui subtilmente acusado de plágio... Aqui está a acusação, e a resposta.



Marco António em Outubro 8th, 2009 9:58
Exmo. Sr. Miguel Pinto.
Apresentando os meus melhores cumprimentos para toda a organização e, especialmente para si, venho deste modo simbólico, agradecer a mais bela reportagem que tive o prazer de ler no Notícias da Portela. Falo do artigo “não me Cerejes”, de longe, um artigo que dignifica a qualidade da publicação.
Mas, como tudo na vida o tem, existe uma leve alusão a um artigo que em tempos escrevi, num artigo publicado no matutino croata, o Jutarnji List de 21 de Janeiro 2007, do qual sou autor (artigo “Skandinávské cherry”).
Sabendo que não existe qualquer intenção de plágio, no entanto, caso queira publicar mais artigos interessantes, agradecia que me contactasse, para tal, fica aqui o meu mail pessoal:
marcoantonio@jutarnji.list.cr
Espero poder, tambem, manter o bom nível qualitativo e cultural da vossa prestigiada publicação (pelo menos aqui na cidade de Ljubljana).
Sem mais, agradeço a atenção dispensada, subscrevo-me,
Marco António



Miguel Esteves Pinto em Outubro 9th, 2009 21:26
«Ao comer cerejas com os grandes senhores, corremos o risco de receber os caroços em cima do nariz.»
Exmo. Sr Marco António,
Ganhei o dia. Assim que me ligou o chefe de redacção, para me informar que tinha sido acusado de plágio, fiquei com um sorriso nos lábios que não desaparece.
Quando finalmente li a sua missiva, fiquei ainda mais feliz. «Não me Cerejes» dignifica, efectivamente, a qualidade da publicação, obrigado.
E sim, faz uma acusação de plágio escondida na inexistente alusão a um artigo que terá escrito no Jutarnji List, cuja existência eu desconhecia, até agora.
Enganou-se.
Tem outra origem… E estou cheio de vergonha…
«A vergonha não espera por ninguém, a não ser que não a ajudem a chegar.»
O meu tio-avô, na sua penúltima vida, nasceu em Israel e, daí à escandinávia, foi um salto. Implantou, como costume obrigatório no nosso clã, o consumo de chá de cereja escandinava ao acordar, para todos aqueles que estivessem sem rumo.
Além disso, resta a questão do chá de apêndice. Realmente, vem de algum lado. Está escrita, há uns aninhos, a prática de vingança, como a mais cruel possível. Mas isto na Bíblia da Igreja Meso-politâmica do Burnubização do Senhor , que fui eu que escrevi… (Sou o sumo-sacerdote.)
Portanto, mais uma vez agradeço a sua acusação de plágio do seu artigo. Fui ler provérbios escandinavos, que tão bem soam aqui. Sabia que «a afectação é aprendiz do orgulho»?
Eu não sabia. Espero que realmente não bebam chás como os que descrevo, já que são um povo tão inteligente…
Ocorrem-me tão belas expressões escandinavas… (Espero que não tenha escrito um livro de provérbios escandinavos, senão aponta-me logo o dedo, imagino…)
«Quem persegue a outra pessoa priva-se a si mesmo de repouso.»
Se alguma vez visse um texto com semelhanças a um meu, e se a probabilidade de o autor conhecer os meus textos fosse quase nula, eu ficaria feliz. E mostrar-lhe-ia o meu texto, se os considerasse quase gémeos…
Porque «o pensamento não paga direitos de alfândega». E ainda bem que «a corda para amarrar os pensamentos ainda não foi urdida»; mesmo assim, os governos lá vão tentando manipular a informação e fazendo ligeiras lavagens cerebrais. Mas os pensamentos ainda não estão amarrados…
«Quem deseja fazer de louco encontra sempre quem o ajude»
Cumprimentos
Miguel Esteves Pinto

domingo, outubro 11, 2009

Já não se fazem guerras como antigamente

Antes, é que era. Com uma espada, uma faca, ou mesmo uma colher. E não mandavam os cozinheiros atacar. Os líderes iam à frente das massas. Bradando, e ostentando a arma escolhida.

Agora, é muito mais fácil. Pelo menos, preocupam-se menos. Penteiam-se e maquilham-se, para falar para uma lente catita, nada agressiva, e pronto. E enviam assim os seus soldadinhos (antes fossem de chumbo, mas são eles os culpados; são quem abdica do poder).

Hoje em dia, parecem miúdos a juntar cromos. E os Estados Unidos da América vão à frente. Sim, por acaso têm o exército mais forte, mas não é só isso. Já vão no quarto Presidente com um Prémio Nobel da Paz. E acabadinho de chegar. O novo messias. Escurinho, já não se pode dizer que os americanos são racistas, e com mais currículo do que Jesus.

Como veio noutra altura, não se vai deixar apanhar pelos outros, os maus. Além disso, só um deles é que tem um Prémio Nobel. E não me venham com fundamentalismos. Somos, ou não, todos filhos de Deus?

Pronto, é certo que ainda existe Guantanamo, mas ele ainda não teve tempo. No próximo mandato, ele trata disso. Se o Bush foi eleito duas vezes... consegue, de certeza. E, não sei se já vos disse, ele ganhou agora... um Prémio Nobel.

Tenham calma, tudo vai ao lugar. É preciso ter calma. Rezem um pouco. E não rezem por ele, rezem com ele.

Bloqueio do Escritor

bloqueio

s. m.

Cerco em que, sem atacar os cercados, se lhes impede toda a comunicação do exterior.

escritor (ô)

s. m.

1. Autor de obras literárias ou científicas (com relação ao estilo, à forma que emprega).

escritor público: literato de profissão.

Realmente, ninguém me ataca, apesar de me sentir cercado. Por paredes negras e esmagadoras. Não impedem toda a comunicação com o exterior... Apenas aniquilam a minha vontade de chegar ao exterior. De quando em quando, o meu telemóvel não envia as mensagens. Já me ligaram, estando ele ligado, e fez greve... O bloqueio é lixado...

Não me apetece ligar a ninguém. Não quero comunicar com o exterior. Tornar-me num desses, esses que, de forma anódina, saíram do bloqueio e sobrevive. Com o bloqueio cruel, pelo menos sou diferente. Sei que algo não me deixa respirar. E quero conseguie fazê-lo. Mas aprendi algo. Aquilo que eu não sou. Ainda não sou (e espero não vir a ser, se isso implicar escrever o que devo) um escritor público.

Literato de profissão? Até tem alguma pinta. Imagina-te num bar, à noite. A dona dos olhos azuis misteriosos que não te largaram acaba por encetar uma conversa. Mostra interesse em ti. Quer saber de ti. E pergunta-te qual a tua profissão.

«Eu, eu sou literato»

Fica estupefacta, e já sabes que está no papo. Ficou tão boquiaberta, que já te aprontas para o próximo salto, não custa nada.

De qualquer maneira, creio que seria incapaz. Não de usar essa arma de engate – seria capaz, mas sentir-me-ia estúpido−, mas sim de me tornar um escritor público. Não é uma profissão estável. Daqui a uns tempos, estará classificado o «bloqueio de escritor público» ou, mais sonante, «bloqueio de literato». E eu não quero estar no meio dos «despedidos por bloqueio inultrapassável».

Igual?

Estás diferente

Já não pareço eu, dizes

Para não pareceres quem és,

Tu deixas-te confuso

O progresso, a vida, a história

Agora não te reconheces

É feio não te reconheceres

Acertas quase sempre

Aquilo em que não te reconheces é feio

Desculpas-te

O que se passou não é nada teu

E não te reconheces

Estás diferente

Vício. Viciante. Viciado.

Estas palavras têm algo a ver comigo.

Há vícios que se exterminam. É estranho. Parece que sempre fez parte de mim. E depois... escapuliu-se.

Foi estranho. Só reparei que já não roía as unhas quando me cocei com muita força. Parece que apanhei um táxi para um universo em que tudo está igual, mas não roo as unhas.

Viciante é uma palavra que não atribuía a mim, mas outros o fizeram, daí falar no assunto. Talvez por causa de um vício, que será talvez contagiante. Estou agora viciado nisto que está à vossa frente. A escrita. Será que penso no assunto dois dias antes, e reflicto que aquilo realmente merece passar para o papel? Claro que não. Escrevo porque me faz bem. Quando não escrevo, sinto-me estúpido, burro, inútil.

Mas porquê viciante, ainda assim? Deve ser o montro que há dentro de mim, e sai cá para fora, de tempos a tempos, em palavras, escritas ou, por vezes, faladas. Deve ser isso.

Ainda assim, não acredito muito nisso. Até gosto de mim, mas, de tempos a tempos, gostaria de tirar umas férias de mim próprio, e não posso.

Viciante não me soa real. Viciado, sem dúvida. E já conheci mais uns quantos.

De quando em vez, lá vem a conversa da ressaca:

«Já não escreves há quanto tempo?», «Não tens escrito, pois não?» ou «Já escreveste, desde...?»

Claro que as perguntas mudam muito, de vício para vício.

«Meteste quantos gramas?» - surge, em conversas entre toxicómanos (aqueles assim definidos pelas notícias e pelas leis).

Mas ninguém pergunta quantas palavras é que escrevi antes de jantar. Era só o que faltava, ir contar as palavras...

Escrevo porque sempre faz a serotonina saltar no meu cérebro (é o que todos os vícios fazem, não é?). sabe bem e é barato. O lado mau é conhecer melhor os meus podres, e escrever merda tantas, tantas, tantas vezes...

Sentidos

Que cheiro tem uma emoção?


Há dias em que cheira mal

Em que o mais valioso sorriso

Cheira a podre, se recheado

De ódio e inveja

Sempre que a estupidez apadrinha uma

Como filho bastardo

E não há nada a fazer

No entanto, quando ela se lembra

Porque tinha reparado

Na quele teu pormenor

Cheira sempre a rosas

Aquelas únicas, mágicas

Que não perdem o aroma

Porque não morrem

Porque há emoções que não se vão embora

Estão lá sempre


A que sabe uma acção?


Ao melhor doce que já provaste

Quando acredita em ti

Quando essa crença a faz dar um passo

E fica mais perto de ti

Quando espera por ti

E desculpa o indesculpável

Ou sabe a agridoce

Se for bem escondida

Estranha-se, mas aceita-se

E está tantas vezes podre

Que uma palmada nas costas pode saber a vomitado


Qual a textura de uma decisão?


Pode ser áspera

Uma segunda escolha pode ser letal

Derramar sangue

Quando as paredes que te esmagam

Nada de suaves têm

Algumas, protectoras

Como são aquelas reveladoras

Que te levam num opíparo leito

Para o centro do mundo que estás a criar


Que som tem o silêncio?


Há dias em que o silêncio se ouve em carinho, em amor

Um sorriso ouve-se noutro continente

Uma festa acorda-te, com o som de uma ode

Também há os outros silêncios

Os que mostram a revolta muda

Aqueles que fazem trespassar o ódio

Que fazem as palavras fugir

Que deixam o coração a sangrar...


Que cor tem o vento?


Há dias em que é cruel

Tudo negro à volta

Pessoas cinzentas, a andar sem sentido

Há outros ventos

Que deixam tanta cor

Vejo um arco-íris enorme

Que foi arrastado

Enfeita aquela noite especial

Em que não fechaste a janela

Tem todas as cores, que vai perdendo

Quando o vento se aproxima disfarçado de negro

Mas não é sempre

Nem conseguia

As cores acabam por sair

Indeciso, o vento

Confusa, a vida