segunda-feira, outubro 03, 2011

Ode ao absurdo

Eu gosto do absurdo.

Não de tudo aquilo a que se costuma chamar absurdo.

Não gosto de desconfortos que tenha por razões imponderáveis que possam ser caracterizadas popularmente como absurdas.

Falo sim daquelas bem ponderadas fugas à realidade que são necessárias e que tentam, no entanto, ser colmatadas pela sociedade.

Infelizmente, vivemos albergados por uma razão quase informática que parece ter surgido para ficar com a revolução industrial.

Há que tentar tirar a realidade do seu eixo.

Chocalhá-la um pouco constantemente, às vezes muito.

Olhar para as coisas belas, milimetricamente estudadas, e fazer algo, o absurdo precisa.

Porque é que uma escultura de que todos gostam perde o seu valor quando deitada ao lado de um caixote do lixo?

Deixa de ser arte?

Ou ganha qualquer coisa?

Chegará a menos pessoas, mas talvez com mais força aos que a vêem.

Porque não pegar no feio?

Porque o feio absoluto não existe.

É uma não-pergunta.

Tudo pode ser deliciosamente absurdo, basta tirá-lo do seu poiso.

Que se fuja às acepções originais da natureza ou das criações humanas.

As funções preconcebidas deixam de interessar.

Tudo nos agrada, repugna ou nos é indiferente.

Porque não melhorar absurdamente as hediondas e anódinas parcelas?

Ainda não inventaram, nem será possível, mas tentam, tentaram e continuarão a tentar criar algo que pense.

Por nós?

Porquê e para quê?

Pensar é o que nos humaniza, não devíamos tentar criar um substituto para cansar menos a cabeça, ela não precisa de descanso.

Viver não é fácil, implica pensar, enganam-se os que procuram o que facilite essa capacidade.

Mas não se pode simplesmente olhar para o que já foi feito, claro que não.

É necessário ser absurdo, rasgar ou desprezar as manchas do passado de quando em quando, e baralhar o presente, criar o futuro.

Tudo pode ser usado como uma peça que engrandeça o absurdo, que faça aquilo de que a realidade precisa, tornar-se irreal, diferente.

Tirar o absurdo à realidade é matá-la, é rejeitar a vida.