segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Congresso

Não acredito. Estou atrasado. Já só falta meia hora para o Congresso dos Corcundas Incontinentes.

Logo eu. Que fiz tudo para que surgisse o lobby dos corcundas incontinentes, o principal responsável pela referência no último volume da Enciclopédia Larousse. O criador da famosa fralda multi-funções, só para nós. Alguém imaginava, há cinco anos, que podia ter uma fralda capaz de reter os líquidos indesejados, de endireitar as costas, e ainda capaz de queimar um perfil do papa num leite-creme prestes a ser servido?

Tudo isso por minha causa... E falta cada vez menos tempo...

Nem sei como é que vou ficar visto na academia se faltar... Estou cada vez mais nervoso e acendo um cigarro. Enquanto freneticamente dou voltas à praça, começo a ficar com medo da minha bexiga. Ainda por cima hoje estou sem fraldas. Logo depois, sinto as minhas cuecas a ficarem um pouco húmidas. Deixo o cigarro ainda aceso junto ao ninho dos pombos, e fico apenas uns segundos a vê-los a apreciar o fumo... Eu detesto pombos, e quero que morram todos. E acredito na teoria do excelso professor Stevens, que defende que quando estão viciados em tabaco são mais fáceis de matar.

Evito perder-me nos meus pensamentos deliciosos sobre a morte dos pombos, e vou à casa-de-banho. Ao sair, vejo mais uma pessoa na praça. Ainda por cima, de uma minoria irritante que parece que está na moda... Anões com Síndrome de Tourette... Mas alguém acredita nessa merda?

Eles estão sempre a praguejar porque nunca conseguem comprar calças da Levi's e porque um anão com umas botas Doc Martens fica realmente ridículo. Ainda fui falar com ele, para lhe explicar o porquê da minha pressa, mas ele reconheceu-me do incidente da semana passada no autocarro, quando não só não ajudei a sua namorada anã a sentar-se (ela não chegava lá, é mesmo, mesmo, mesmo anã, e só repetia «Punheta, punheta, punheta!»), como ainda lhe roubei o lugar (estava cansado, tinha estado a jogar xadrez...).

Lá aparece um táxi, e o anão embarca nele. Ainda peço ao condutor para voltar à praça assim que possa. Obediente, demora um quarto de hora a voltar, e apanha-me, muito ansioso.

A caminho do Palácio de Cristal, começo a ficar mais relaxado com a imensidão de sinais verdes que o Josué atravessa. Porreiro, o taxista, mas com péssimo gosto musical. Já deve ser difícil para os outros, mas ouvir a Celine Dion a guinchar na rádio desconcentra-me mesmo muito. Só me vem à cabeça o raio do Titanic a desfazer-se no meio de tanta, tanta, tanta água.

Uff, a música acabou. É pá, não acredito... «Sou como um rio», dos Delfins... Estou a contorcer-me no banco de trás, quando oiço Josué:

«Está tudo bem?»

O meu «Acho que não, devia parar» é ignorado e as minhas calças de linho brancas começam a ficar amareladas.

«Foda-se, limpei a puta do carro hoje! Vou já voltar para a bomba, caguei para a tua pressa!»

E agora? Realmente, era estranho entrar no congresso com as calças amarelas, e de certeza que o Josué me quer obrigar a limpar o carro...

Estou mesmo a ver o fim desta história... Vou ser demitido da Academia...

Bem, eu já tinha dito... Congressos à terça-feira não dá para mim!

5 comentários:

funk disse...

levas o surrealismo ao seu expoente máximo. estás cada vez mais surrealista e mais e mais... continua. ninguém imagina como poderás ainda ser mais surrealista do que este texto.

speauneum disse...

obrigado. gostei do coomentário e especificamente de «continua»...
abraço

RYDESIGN disse...

R.K.L
rich kids on lsd

Forever & Never disse...

Só te posso dizer que me fizeste-me rir IMENSO. (sim, não quero ouvir a tua teoria sobre o uso incorrecto do termo "imenso"...) Adorei o pormenor dos Delfins, contudo, Celine foi um pouco cliché. Acho que teria sido melhor Gloria Estefan - Conga :P

speauneum disse...

rir imenso está bem... :)

não podias era dizer que tinhas rido imensas vezes ehehe

é pa, eu não consigo deixar de pensar na celine...