Apetece-me estar com ela, claro, mas não sei se devia. E se as suas garras saltassem e me ferissem? Mas tem garras? Parece que sim. Parece um gato tenro, a quem apetece acariciar, tocar, carregar para todo o lado... mas sabendo que elas estão lá. As garras, prontas a saltar.
Se calhar, vão-me fazer sangrar, de uma ferida funda, que não fecha.
Tenho algum medo mas, tal como um gato, quando ronrona eu não consigo fugir. Tenho que lá ficar, sentir o seu calor, aumentar a sua alegria. Eu consigo.
Consigo sempre pegar nos gatos. Quase sempre, pronto. E isso faz com que queira ir atrás daquela felina que caminha sensualmente à minha frente.
Já tenho duas coisas a lixarem-me a vida. As garras e o «quase». Agora, não me saem da cabeça aquelas vezes em que fugiram, e só me atira mais para baixo, lembrar-me de quando fiquei só. Só, frustrado e a sangrar. Sim, de uma dessas feridas que não saram.
E agora?
Parece que estou farto de mim, que queria ser ágil, rápido, eu próprio um gato, que cai sempre direito e que só se magoa se lhe quiserem fazer mal.
Quero deixar de ser quem sou, apesar de gostar muito de muito do que já fiz. Agora já não me surpreendo.